Das benesses que a mentira traz

Publicado originalmente no Facebook em 30.06.2016.

Hoje (30/06/16) o jornalista Nelson Hoineff mais uma vez gastou 3.240 caracteres sem espaços para criticar a EBC em sua coluna no jornal O Globo. Há um dado falso que precisa ser desmentido. O jornalista cita a matéria do Globo de 27/06/16, que afirma que a “EBC viu seu número de funcionários saltar de 913, em 2010, para 2.564, em 2014, um incremento de 180% em quatro anos”.

A soma da força de trabalho da Acerp (TVE, Ràdios MEC e Nacional do RIo) e Radiobrás (NBR, Agência Nacional e outras rádios), fundidas na EBC em 2008, dá 2.585 (1). O número de funcionários contabilizados em 31 de maio de 2016 pela EBC era de 2.552 pessoas. São 33 funcionários a menos do que em 2008. Um pouco diferente dos 180% “a mais” divulgado pelo jornal O Globo.

Pode-se achar muito ou pode-se achar pouco. Pode-se levantar dados sobre a audiência e o número de funcionários das redes públicas e privadas mundiais. Pode-se discutir se é mais interessante ter um modelo com mais produção externa ou uma produção mais barata e verticalizada, concentrada nos trabalhadores. Ou um equilíbrio desses modelos.

Mas o que está em jogo não é o debate sobre o melhor projeto para a EBC. É uma disputa política. Não é ingênua a sequência de artigos nos jornais de maior circulação nacional desqualificando o projeto da EBC – a primeira iniciativa nacional a tirar do papel um preceito constitucional (2).

Chama ainda mais atenção a exaltação da TV Cultura na maioria dos textos de opinião que defendem o fim da TV Brasil. A qualidade de conteúdo que marca a programação da emissora paulista desde o final da década de 60, quando foi refundada pela Fundação Padre Anchieta, é inquestionável. E ninguém quer acabar com a TV Cultura porque ela dá menos de 2 pontos de audiência em média. Seus quase 50 anos de história mostram a importância da comunicação pública para os cidadãos de São Paulo.

Pelo contrário, o que se questiona é o desmonte pelo que passa a emissora desde 2010, com a demissão de mais de mil funcionários e redução de seu orçamento. É coincidência que os pontos mais criticados sejam o custo e o número de funcionários da EBC e que se exalte tanto a TV Cultura, que passou por um processo de enxugamento nos últimos anos? É coincidência que se use os dados de audiência da TV Cultura em São Paulo para dizer que é melhor que a TV Brasil, sem mencionar que ela é 5º lugar no estado?

É coincidência que se pregue o fim da TV Brasil, com funcionários antigos da Radiobrás assumindo diretorias na EBC? E se isso acontecer, para onde iriam os 80% de conteúdos não jornalísticos da TV Brasil? Como faria a Rede Nacional de Comunicação Pública, com 48 emissoras associadas à EBC em todo país, que retransmitem a quase totalidade destes 80% de conteúdos? Hmmmm, de repente a TV Cultura assume tudo isso. Aí resolve.

(1) Fonte: Dados apurados com a gestão da EBC revelam que no ano de fundação da empresa, 2008, havia 1110 funcionários da Associação de Comunicação Educativa Roquette-Pinto (Acerp). Eles eram responsáveis pela operação da TVE do Rio de Janeiro, rádios Nacional AM, e MEC AM e FM. Já Radiobrás, gestora da NBR, Agência Nacional, Radioagência e de outras cinco rádios, contava com 970 empregados de carreira, 307 empregados de livre provimento e 198 empregados com contrato temporário. Ou seja, 1.475 empregados.

(2) Constituição Federal, Art. 223. Compete ao Poder Executivo outorgar e renovar concessão, permissão e autorização para o serviço de radiodifusão sonora e de sons e imagens, observado o princípio da complementaridade dos sistemas privado, público e estatal.

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